País
Uma escola pela inclusão. Há um colégio em Alvalade a lutar para sobreviver
Ainda é de manhã e a campainha do Colégio Eduardo Claparède, em Alvalade, não para de tocar. A escola vive num corrupio: ora é tempo de aulas, ora é tempo de uma das muitas atividades que o colégio oferece. Há natação, há futebol, há ginástica adaptada, há uma parceria para levar as crianças ao Museu Bordalo Pinheiro. A escola estende-se para além do muro - a escola é o bairro todo, tudo serve para aprender.
O Colégio Eduardo Claparède, no centro de Lisboa, é um colégio privado de educação especial que recebe crianças e jovens com problemas no neurodesenvolvimento e com défices cognitivos, crianças e jovens que já não encontram respostas no ensino regular. Os alunos são encaminhados pelas escolas públicas e, por isso mesmo, as escolas privadas acabam por ser uma extensão do ensino público. Para os pais que têm os filhos no Eduardo Claparède, a escola é muito mais do que isso: é uma luz de esperança num futuro mais inclusivo.
É por isso que todos tremem com a possibilidade de, um dia, o colégio vir a fechar. E a possibilidade está sempre em cima da mesa. Há anos que professores e famílias alertam para o subfinanciamento crónico dos colégios privados. Por cada aluno que frequenta este tipo de ensino, o Estado paga 650 euros, um valor que foi atualizado em 2023, perante a ameaça de encerramento do Colégio Eduardo Claparède.
Já na altura, o montante não era suficiente e, dois anos depois, a situação continua a ser difícil. A escola está a viver, mais uma vez, um pesadelo: o Eduardo Claparède pode mesmo vir a encerrar ainda antes do fim do ano letivo. "O prazo é até nós conseguirmos aguentar e, obviamente, não vamos conseguir aguentar até junho, julho, se não houver um aumento", lamenta Isabel Beirão, uma das diretoras pedagógicas do colégio.

As contas do Eduardo Claparède já estão no vermelho. O prejuízo da escola é mensal - 30 mil euros até julho deste ano. Os maiores gastos são com pessoal, com os 28 profissionais que ensinam os 80 alunos que frequentam o espaço. Já houve situações em que os ordenados estiveram em risco e isso é tudo o que a direção da escola quer evitar. "O que temos referido é que valorizamos imenso o trabalho deles, estamos na luta para lhes pagar condignamente, mas a vida não se faz de missão, faz-se de dinheiro. Todos nós temos de pagar rendas de casa, a escolaridade dos filhos - tudo. Portanto, não é possível, não é viável e é um basta, não podemos continuar sistematicamente nisto", alerta Isabel Beirão.
Abrir a porta ao Colégio Eduardo Claparède é, portanto, uma vitória a cada dia. Aqui, ninguém quer sequer ouvir falar na possibilidade de a escola fechar. Os pais sentem-se acompanhados, relatam histórias de superação, de crescimento, de autonomização. Para muitos - para todos - este foi o último recurso possível, um recurso que é, para eles, um oásis no panorama do ensino no país. E é por isso que todos dão a voz pela escola. Para os alunos do Claparède não há plano B.
Já na altura, o montante não era suficiente e, dois anos depois, a situação continua a ser difícil. A escola está a viver, mais uma vez, um pesadelo: o Eduardo Claparède pode mesmo vir a encerrar ainda antes do fim do ano letivo. "O prazo é até nós conseguirmos aguentar e, obviamente, não vamos conseguir aguentar até junho, julho, se não houver um aumento", lamenta Isabel Beirão, uma das diretoras pedagógicas do colégio.
As contas do Eduardo Claparède já estão no vermelho. O prejuízo da escola é mensal - 30 mil euros até julho deste ano. Os maiores gastos são com pessoal, com os 28 profissionais que ensinam os 80 alunos que frequentam o espaço. Já houve situações em que os ordenados estiveram em risco e isso é tudo o que a direção da escola quer evitar. "O que temos referido é que valorizamos imenso o trabalho deles, estamos na luta para lhes pagar condignamente, mas a vida não se faz de missão, faz-se de dinheiro. Todos nós temos de pagar rendas de casa, a escolaridade dos filhos - tudo. Portanto, não é possível, não é viável e é um basta, não podemos continuar sistematicamente nisto", alerta Isabel Beirão.
Um estudo já apresentado pelos colégios privados de educação especial ao Ministério da Educação mostra que, por cada aluno, o Estado deveria pagar pelo menos 1100 euros para garantir todo o acompanhamento necessário. Ou seja, mais do dobro do que recebem agora.
O Governo nunca respondeu a essa reivindicação, mas em outubro, em Conselho de Ministros, o Ministério decidiu aumentar o apoio aos estabelecimentos de ensino particular, cooperativas e associações de ensino especial em 2,9 milhões de euros, num orçamento total de 12,6 milhões. Ao contrário do que parecia, o montante não vai resolver o problema dos colégios, porque o vai servir, sim, para acautelar os encaminhamentos dos alunos que não estavam sinalizados no início do ano escolar.
"Há alunos que não tiveram ainda autorização de entrada - no nosso caso são só dois, mas no caso dos outros colégios esse número ainda é mais significativo - e a justificação para o não encaminhamento não era porque o aluno não deveria entrar, era porque não havia verba. Nunca tal tinha acontecido. Houve um esgotar da verba e teve de vir esta adicional", explica a diretora pedagógica do Eduardo Claparède.
O Governo nunca respondeu a essa reivindicação, mas em outubro, em Conselho de Ministros, o Ministério decidiu aumentar o apoio aos estabelecimentos de ensino particular, cooperativas e associações de ensino especial em 2,9 milhões de euros, num orçamento total de 12,6 milhões. Ao contrário do que parecia, o montante não vai resolver o problema dos colégios, porque o vai servir, sim, para acautelar os encaminhamentos dos alunos que não estavam sinalizados no início do ano escolar.
"Há alunos que não tiveram ainda autorização de entrada - no nosso caso são só dois, mas no caso dos outros colégios esse número ainda é mais significativo - e a justificação para o não encaminhamento não era porque o aluno não deveria entrar, era porque não havia verba. Nunca tal tinha acontecido. Houve um esgotar da verba e teve de vir esta adicional", explica a diretora pedagógica do Eduardo Claparède.
Perante o anúncio do governo, a reação no colégio foi de revolta. "Foi uma enorme falta de respeito para connosco, instituições e famílias - que também têm escrito cartas ao Ministro da Educação. Nesse dia pensei o que é que estamos aqui a fazer?", lamenta Isabel Beirão, que diz que o cenário parece, agora, ainda mais negro.
É que para além de não estar previsto qualquer aumento do valor da mensalidade, não há nada que indique que no Orçamento do Estado vá ser diferente. O que está previsto é uma revisão do enquadramento legal da Educação Inclusiva.
"Uma revisão de lei demora muito tempo. Não há tempo. A realidade é que todos nós, colégios de educação especial, estamos atualmente com prejuízo mensal - no nosso caso, significativo - porque apesar de gostarmos muito de trabalhar aqui dentro, não é possível nenhuma instituição, nenhuma empresa, funcionar pelo espírito de missão. As pessoas têm de ter o reconhecimento do seu valor e da sua função profissional", avança a responsável.
É que para além de não estar previsto qualquer aumento do valor da mensalidade, não há nada que indique que no Orçamento do Estado vá ser diferente. O que está previsto é uma revisão do enquadramento legal da Educação Inclusiva.
"Uma revisão de lei demora muito tempo. Não há tempo. A realidade é que todos nós, colégios de educação especial, estamos atualmente com prejuízo mensal - no nosso caso, significativo - porque apesar de gostarmos muito de trabalhar aqui dentro, não é possível nenhuma instituição, nenhuma empresa, funcionar pelo espírito de missão. As pessoas têm de ter o reconhecimento do seu valor e da sua função profissional", avança a responsável.
Abrir a porta ao Colégio Eduardo Claparède é, portanto, uma vitória a cada dia. Aqui, ninguém quer sequer ouvir falar na possibilidade de a escola fechar. Os pais sentem-se acompanhados, relatam histórias de superação, de crescimento, de autonomização. Para muitos - para todos - este foi o último recurso possível, um recurso que é, para eles, um oásis no panorama do ensino no país. E é por isso que todos dão a voz pela escola. Para os alunos do Claparède não há plano B.